Pacheco RL, Martimbianco ALC, Riera, R. Interpretação de resultados de estudos clínicos e sínteses de evidências. 2022. Disponível em: www.nepsbeats.com.
Última atualização: 08/abril/2024.
No exemplo a seguir, examinaremos um ensaio clínico randomizado que possui o seguinte PICO:
P: pacientes com carcinoma colorretal metastático
I: imunoterapia + quimioterapia convencional
C: placebo + quimioterapia convencional
O: Sobrevida global
A hipótese principal do estudo é a de que a imunoterapia aumenta a sobrevida de pacientes com carcinoma colorretal metastático. O estudo recrutou um total de 48 pacientes (20 no grupo placebo e 28 no grupo intervenção).
Base 1. Base de dados do ensaio clínico randomizado que avaliou imunoterapia em pacientes com carcinoma colorretal metastático.
studytime : tempo (em meses) até a censura ou evento
died: estado (vivo ou morto) do paciente no momento da censura
group: identificação de qual intervenção o paciente recebeu
age: idade do paciente no momento da randomização (linha de base)
A curva de sobrevida está apresentada na figura 1.
Pela inspeção visual da figura 1, houve um grande distanciamento entre as curvas, o que parece indicar um benefício importante da intervenção no aumento da sobrevida. No entanto, precisamos utilizar um modelo de regressão para mensurar a magnitude do efeito. O modelo mais comumente utilizado é o modelo de Cox.
Code
library(survival)library(tidyverse)library(gtsummary)coxph(Surv(studytime, died) ~ group, data = survival_data)
Call:
coxph(formula = Surv(studytime, died) ~ group, data = survival_data)
coef exp(coef) se(coef) z p
group -2.0850 0.1243 0.4443 -4.692 2.7e-06
Likelihood ratio test=25.05 on 1 df, p=5.6e-07
n= 48, number of events= 31
Code
coxph(Surv(studytime, died) ~ group, data = survival_data) |>tbl_regression(exp =TRUE)
Characteristic
HR1
95% CI1
p-value
Drug type
0.12
0.05, 0.30
<0.001
1 HR = Hazard Ratio, CI = Confidence Interval
O resultado é um hazard ratio de 0.12. O intervalo de confiança de 95% é de 0.05 a 0.30. Também temos um valor de p (<0.001), indicando que podemos rejeitar com confiança a hipótese nula de que os hazards dos grupos intervenção e placebo são os mesmos.
Esse ensaio clínico randomizado poderia sumarizar o resultado da seguinte forma:
Hazard ratio = 0.12; IC 95% = 0.05 a 0.30; p = 0.000).
Mas o que é o hazard ratio? O hazard ratio pode ser encarado como um “risco médio” ao longo do período. Ou seja, neste caso, podemos interpretar que em média o risco de um participantes morrer é 88% menor no grupo intervenção do que no grupo placebo.
O intervalo de confiança mostra que o efeito da intervenção na população é compatível com uma redução de 70% a 95% da mortalidade ao longo do tempo. Ou seja, mesmo no cenário mais conservador, o efeito esperado da intervenção é muito importante, o que confirma a impressão inicial de separação das curvas pela inspeção visual da curva de sobrevida (figura 1).
De fato, o modelo de regressão de Cox possui uma premissa muito importante: a de que a diferença relativa de riscos entre os grupos é constante ao longo do tempo. Essa premissa é chamada de “proporcionalidade dos hazards”.
Existem várias maneiras que um estatístico pode analisar a proporcionalidade de hazards. Uma dela é pelo gráfico “log-log plot of survival” (figura 2).
Code
plot(s1, fun ="cloglog", xlab ="Time (in days) using log",ylab ="log-log survival")
Figura 2. Log-log plot of survival
A teoria por trás desse gráfico é um pouco complexa, mas, em síntese, quando as curvas se cruzam em algum momento, a premissa de proporcionalidade entre os hazards não se sustenta. Neste caso, as curvas estão suficientemente paralelas para não duvidarmos dessa premissa. No entanto, existem outras formas de se avaliar a premissa da proporcionalidade, sendo a mais importante o contexto clínico avaliado pelo ensaio clínico randomizado.
Regressão de Cox ajustada
Como em qualquer regressão, podemos ajustar o modelo de regressão para variáveis de interesse. A análise abaixo apresenta a análise anterior ajustada pela idade dos pacientes na linha de base.
Code
library(survival)library(tidyverse)library(gtsummary)coxph(Surv(studytime, died) ~ group + age, data = survival_data) |>tbl_regression(exp =TRUE)
Characteristic
HR1
95% CI1
p-value
Drug type
0.10
0.04, 0.24
<0.001
Patient's age at start of exp.
1.12
1.04, 1.21
0.002
1 HR = Hazard Ratio, CI = Confidence Interval
Esse ensaio clínico randomizado poderia sumarizar o resultado desta forma:
Hazard ratio não ajustado = 0.12; IC 95% = 0.05 a 0.30; p = 0.000).
Hazard ratio ajustado pela idade = 0.10; IC 95% = 0.04 a 0.24; p = 0.000.
O hazard ratio ajustado pela idade indica um benefício ainda mais robusto com a intervenção.
Também é possível relatar uma curva de sobrevida ajustada (figura 3). Nesse caso, a curva ajustada, assim como hazard ratio, é muito similar à não ajustada.
---title: "Regressão de Cox e hazard ratio"author: RLPformat: html: code-fold: true code-tools: truecss: style.csseditor_options: chunk_output_type: inlineexecute: warning: false---**Como citar o conteúdo deste site**Pacheco RL, Martimbianco ALC, Riera, R. Interpretação de resultados de estudos clínicos e sínteses de evidências. 2022. Disponível em: www.nepsbeats.com.Última atualização: 08/abril/2024.------------------------------------------------------------------------No exemplo a seguir, examinaremos um ensaio clínico randomizado que possui o seguinte PICO:``` P: pacientes com carcinoma colorretal metastáticoI: imunoterapia + quimioterapia convencionalC: placebo + quimioterapia convencionalO: Sobrevida global```A hipótese principal do estudo é a de que a imunoterapia aumenta a sobrevida de pacientes com carcinoma colorretal metastático. O estudo recrutou um total de 48 pacientes (20 no grupo placebo e 28 no grupo intervenção).**Base 1**. Base de dados do ensaio clínico randomizado que avaliou imunoterapia em pacientes com carcinoma colorretal metastático.```{r}library(haven)survival_data <-read_dta("C:/Users/casa/OneDrive/cursos AE/curso_dgits _revisao/teste km/survival_data.dta")knitr::kable(survival_data[1:10, ], ) ```As colunas significam:``` studytime : tempo (em meses) até a censura ou eventodied: estado (vivo ou morto) do paciente no momento da censuragroup: identificação de qual intervenção o paciente recebeuage: idade do paciente no momento da randomização (linha de base)```A curva de sobrevida está apresentada na **figura 1**.```{r}library(survminer)library(survival)s1 <-survfit(Surv(studytime, died) ~ group, data = survival_data)ggsurvplot(s1, conf.int =TRUE, risk.table =TRUE,risk.table.col ="group", surv.median.line ="hv", ggtheme =theme_minimal())```**Figura 1.** Curva de Kaplan-MeierPela inspeção visual da **figura 1**, houve um grande distanciamento entre as curvas, o que parece indicar um benefício importante da intervenção no aumento da sobrevida. No entanto, precisamos utilizar um modelo de regressão para mensurar a magnitude do efeito. O modelo mais comumente utilizado é o modelo de Cox.```{r}library(survival)library(tidyverse)library(gtsummary)coxph(Surv(studytime, died) ~ group, data = survival_data)coxph(Surv(studytime, died) ~ group, data = survival_data) |>tbl_regression(exp =TRUE)```O resultado é um *hazard ratio* de 0.12. O intervalo de confiança de 95% é de 0.05 a 0.30. Também temos um valor de p (\<0.001), indicando que podemos rejeitar com confiança a hipótese nula de que os *hazards* dos grupos intervenção e placebo são os mesmos.Esse ensaio clínico randomizado poderia sumarizar o resultado da seguinte forma:- *Hazard ratio* = 0.12; IC 95% = 0.05 a 0.30; p = 0.000).Mas o que é o *hazard ratio*? O *hazard ratio* pode ser encarado como um “risco médio” ao longo do período. Ou seja, neste caso, podemos interpretar que em média o risco de um participantes morrer é 88% menor no grupo intervenção do que no grupo placebo.O intervalo de confiança mostra que o efeito da intervenção na população é compatível com uma redução de 70% a 95% da mortalidade ao longo do tempo. Ou seja, mesmo no cenário mais conservador, o efeito esperado da intervenção é muito importante, o que confirma a impressão inicial de separação das curvas pela inspeção visual da curva de sobrevida (**figura 1**).De fato, o modelo de regressão de Cox possui uma premissa muito importante: a de que a diferença relativa de riscos entre os grupos é constante ao longo do tempo. Essa premissa é chamada de “proporcionalidade dos hazards”.Existem várias maneiras que um estatístico pode analisar a proporcionalidade de hazards. Uma dela é pelo gráfico “log-log plot of survival” (**figura 2**).```{r}plot(s1, fun ="cloglog", xlab ="Time (in days) using log",ylab ="log-log survival")```**Figura 2.** Log-log plot of survivalA teoria por trás desse gráfico é um pouco complexa, mas, em síntese, quando as curvas se cruzam em algum momento, a premissa de proporcionalidade entre os *hazards* não se sustenta. Neste caso, as curvas estão suficientemente paralelas para não duvidarmos dessa premissa. No entanto, existem outras formas de se avaliar a premissa da proporcionalidade, sendo a mais importante o contexto clínico avaliado pelo ensaio clínico randomizado.***Regressão de Cox ajustada***Como em qualquer regressão, podemos ajustar o modelo de regressão para variáveis de interesse. A análise abaixo apresenta a análise anterior ajustada pela idade dos pacientes na linha de base.```{r}library(survival)library(tidyverse)library(gtsummary)coxph(Surv(studytime, died) ~ group + age, data = survival_data) |>tbl_regression(exp =TRUE)```Esse ensaio clínico randomizado poderia sumarizar o resultado desta forma:- *Hazard ratio* não ajustado = 0.12; IC 95% = 0.05 a 0.30; p = 0.000).- *Hazard ratio* ajustado pela idade = 0.10; IC 95% = 0.04 a 0.24; p = 0.000.O *hazard ratio* ajustado pela idade indica um benefício ainda mais robusto com a intervenção.Também é possível relatar uma curva de sobrevida ajustada (**figura 3**). Nesse caso, a curva ajustada, assim como *hazard ratio*, é muito similar à não ajustada.```{r}library(survminer)library(survival)library(pammtools)library(riskRegression)library(adjustedCurves)library(tidyverse)survival_data <- survival_data |>mutate(groupfactor =as.factor(group))s1 <-coxph(Surv(studytime, died) ~ groupfactor + age, data = survival_data, x =TRUE)iptw <-adjustedsurv(data = survival_data, variable ="groupfactor", ev_time ="studytime",event ="died", method ="direct",outcome_model = s1, conf_int =TRUE)plot(iptw, conf_int =TRUE, median_surv_lines =TRUE, censoring_ind="points", censoring_ind_shape=3,censoring_ind_size=2, xlab ="Time (in months)", ylab ="Survival probability", main ="Adjusted Kaplan-Meier curve")```**Figura 3.** Curva de Kaplan-Meier (análise ajustada pela idade)