Pacheco RL, Martimbianco ALC, Riera, R. Interpretação de resultados de estudos clínicos e sínteses de evidências. 2022. Disponível em: www.nepsbeats.com.
Última atualização: 08/abril/2024.
Por que precisamos de análise de tempo para evento?
Você está analisando os dados de um ensaio clínico randomizado hipotético que possui o seguinte PICO:
P: pacientes com melanoma avançado
I: imunoterapia + quimioterapia convencional
C: placebo + quimioterapia convencional
O: mortalidade em um ano
A hipótese principal do estudo é a de que a imunoterapia diminui a mortalidade de pacientes com melanoma avançado.
Base 1. Base de dados do ensaio clínico randomizado que avaliou imunoterapia em pacientes com melanoma avançado.
Code
knitr::kable(df[1:12, ], )
group
age
study_time
died
35
Placebo
57
21
Dead
394
Intervention
24
17
Dead
178
Placebo
90
15
Dead
78
Placebo
18
17
Dead
378
Intervention
85
27
Dead
57
Placebo
77
16
Dead
82
Placebo
61
14
Dead
274
Intervention
72
12
Dead
316
Intervention
72
25
Dead
95
Placebo
71
22
Dead
349
Intervention
90
21
Dead
320
Intervention
90
20
Dead
As colunas significam:
studytime : tempo (em meses) até a censura ou evento
died: estado (vivo ou morto) do paciente no momento da censura
group: identificação de qual intervenção o paciente recebeu
age: idade do paciente no momento da randomização (linha de base)
No total, o ensaio clínico recrutou 200 participantes para o grupo placebo e 200 pacientes para o grupo imunoterapia.
Code
table(df$group)
Intervention Placebo
200 200
Um problema surge ao analisarmos os dados utilizando riscos ou odds. Todos 400 pacientes do estudo tinham morrido no final do seguimento.
Code
table(df$group, df$died)
Dead
Intervention 200
Placebo 200
Neste caso, é errado assumir que a intervenção não teve efeito na redução de mortalidade. Em doenças agressivas, como grande parte das doenças oncológicas, a hipótese principal é de que a intervenção irá aumentar a sobrevida ou “atrasar” a progressão da doença. Para esta análise precisamos adicionar uma nova variável: o tempo.
As análises de variáveis tempo-para-evento captam a ocorrência dos desfechos ao longo do tempo de seguimento dos pacientes e permitem analisar os dados de maneira apropriada.
Em um estudo oncológico, é comum a ocorrência de seguintes situações de seguimento (Figura 1).
Figura 1. Situações de seguimento comuns em um estudo oncológico.
Uma análise de tempo-para-evento capta as informações dos três casos. Ela computará o paciente que apresentou evento durante o seguimento, mas também considerará os pacientes “censurados”, seja por terem perdido seguimento ao longo do estudo ou por não terem apresentado o evento durante o tempo de seguimento do estudo.
Por este motivo, as análises de tempo-para-evento são as mais apropriadas para estudos em oncologia.
Descrevendo o tempo de vida de pessoas em um estudo
Estudos que avaliam desfechos do tipo tempo para evento normalmente descrevem a mediana de “sobrevida” dos grupos do ensaio clínico randomizado.
Normalmente, a distribuição do tempo até o evento de participantes em um estudo é assimétrica. Em estudos de oncologia, é comum acontecer alta frequência de mortalidade/eventos no começo do seguimento e uma ocorrência menos gradual de eventos ao passar do tempo. Além disso, existem outliers por pacientes que vivem um tempo consideravelmente maior que os outros.
Code
library(tidyverse)ggplot(df, aes(x = study_time, fill = group)) +geom_histogram(binwidth =5, position ="dodge") +labs(title ="Tempo até a morte",x ="Tempo (meses)",y ="Frequência") +theme_minimal() +facet_wrap(~group)
A figura acima apresenta o histograma do tempo até o evento de pacientes em um ensaio clínico randomizado.
Um estudo poderia descrever os resultados da seguinte maneira:
A mediana de sobrevida dos pacientes no grupo intervenção foi de 23 meses (Intervalo interquartil = 18,5 a 27 meses).
A mediana de sobrevida dos pacientes no grupo placebo foi de 18 meses (Intervalo interquartil = 15 a 21 meses).
Deste modo, a metade dos pacientes no grupo intervenção teve sobrevida de até 23 meses (1/4 de até 18,5 meses e 3/4 de até 27 meses).
No grupo placebo, a sobrevida foi em média menor, pois metade dos pacientes teve sobrevida de até 18 meses (1/4 de até 15 meses e 3/4 de até 21 meses).
---title: "Desfechos do tipo tempo para evento em oncologia"author: RLPformat: html: code-fold: true code-tools: truecss: style.csseditor_options: chunk_output_type: inlineexecute: warning: false---**Como citar o conteúdo deste site**Pacheco RL, Martimbianco ALC, Riera, R. Interpretação de resultados de estudos clínicos e sínteses de evidências. 2022. Disponível em: www.nepsbeats.com.Última atualização: 08/abril/2024.------------------------------------------------------------------------***Por que precisamos de análise de tempo para evento?***Você está analisando os dados de um ensaio clínico randomizado hipotético que possui o seguinte PICO:``` P: pacientes com melanoma avançadoI: imunoterapia + quimioterapia convencionalC: placebo + quimioterapia convencionalO: mortalidade em um ano```A hipótese principal do estudo é a de que a imunoterapia diminui a mortalidade de pacientes com melanoma avançado.```{r}set.seed(150393)n <-400n_group <-200#df controlgroup <-rep("Placebo", n_group)died <-sample(c("Alive", "Dead"), n_group, replace =TRUE, prob = (c(0.0, 1)))study_time <-rnorm(n_group, mean =18, sd =4)study_time <-round(study_time)age <-rnorm(n_group, mean =60, sd =30)age <-ifelse(age <18, 18, age)age <-ifelse(age >90, 90, age)age <-round(age)df_control <-data.frame(group, age, study_time, died)# df intgroup <-rep("Intervention", n_group)died <-sample(c("Alive", "Dead"), n_group, replace =TRUE, prob = (c(0.0, 1)))study_time <-rnorm(n_group, mean =23, sd =6)study_time <-round(study_time)age <-rnorm(n_group, mean =60, sd =30)age <-ifelse(age <18, 18, age)age <-ifelse(age >90, 90, age)age <-round(age)df_int <-data.frame(group, age, study_time, died)df <-rbind(df_control, df_int)df <- df[sample(nrow(df)),]```**Base 1**. Base de dados do ensaio clínico randomizado que avaliou imunoterapia em pacientes com melanoma avançado.```{r}knitr::kable(df[1:12, ], )```As colunas significam:``` studytime : tempo (em meses) até a censura ou eventodied: estado (vivo ou morto) do paciente no momento da censuragroup: identificação de qual intervenção o paciente recebeuage: idade do paciente no momento da randomização (linha de base)```No total, o ensaio clínico recrutou 200 participantes para o grupo placebo e 200 pacientes para o grupo imunoterapia.```{r}table(df$group)```Um problema surge ao analisarmos os dados utilizando riscos ou *odds*. Todos 400 pacientes do estudo tinham morrido no final do seguimento.```{r}table(df$group, df$died)```Neste caso, é errado assumir que a intervenção não teve efeito na redução de mortalidade. Em doenças agressivas, como grande parte das doenças oncológicas, a hipótese principal é de que a intervenção irá aumentar a sobrevida ou “atrasar” a progressão da doença. Para esta análise precisamos adicionar uma nova variável: **o tempo**.As análises de variáveis tempo-para-evento captam a ocorrência dos desfechos ao longo do tempo de seguimento dos pacientes e permitem analisar os dados de maneira apropriada.Em um estudo oncológico, é comum a ocorrência de seguintes situações de seguimento (**Figura 1**).**Figura 1.** Situações de seguimento comuns em um estudo oncológico.![](seguimento.png)Uma análise de tempo-para-evento capta as informações dos três casos. Ela computará o paciente que apresentou evento durante o seguimento, mas também considerará os pacientes “censurados”, seja por terem perdido seguimento ao longo do estudo ou por não terem apresentado o evento durante o tempo de seguimento do estudo.Por este motivo, as análises de tempo-para-evento são as mais apropriadas para estudos em oncologia.## Descrevendo o tempo de vida de pessoas em um estudoEstudos que avaliam desfechos do tipo tempo para evento normalmente descrevem a mediana de "sobrevida" dos grupos do ensaio clínico randomizado.Normalmente, a distribuição do tempo até o evento de participantes em um estudo é assimétrica. Em estudos de oncologia, é comum acontecer alta frequência de mortalidade/eventos no começo do seguimento e uma ocorrência menos gradual de eventos ao passar do tempo. Além disso, existem *outliers* por pacientes que vivem um tempo consideravelmente maior que os outros.```{r}library(tidyverse)ggplot(df, aes(x = study_time, fill = group)) +geom_histogram(binwidth =5, position ="dodge") +labs(title ="Tempo até a morte",x ="Tempo (meses)",y ="Frequência") +theme_minimal() +facet_wrap(~group)```A figura acima apresenta o histograma do tempo até o evento de pacientes em um ensaio clínico randomizado.```{r}df <- df %>%mutate(died_num =ifelse(died =="Dead", 1, 0))library(survival)library(survminer)s1 <-survfit(Surv(study_time, died_num) ~ group, data = df)summary(s1)$tablequantile(x = s1, probs =c(0.25, 0.75), conf.int =FALSE)```Um estudo poderia descrever os resultados da seguinte maneira:- A mediana de sobrevida dos pacientes no grupo intervenção foi de 23 meses (Intervalo interquartil = 18,5 a 27 meses).- A mediana de sobrevida dos pacientes no grupo placebo foi de 18 meses (Intervalo interquartil = 15 a 21 meses).Deste modo, a metade dos pacientes no grupo intervenção teve sobrevida de até 23 meses (1/4 de até 18,5 meses e 3/4 de até 27 meses). No grupo placebo, a sobrevida foi em média menor, pois metade dos pacientes teve sobrevida de até 18 meses (1/4 de até 15 meses e 3/4 de até 21 meses).